É inevitável e saudável olharmos em perspectiva para o ano que está para findar. Validar o que caminhamos, enxergar onde falhamos, assumir no que nos omitimos. Sei, sinto e escuto que estamos todos bem cansados. Após dois anos de distanciamento, 2022 foi o tempo de voltarmos, mesmo que parcialmente num primeiro momento, ao “presencial” e isso nos exigiu novas adaptações e muita energia.
Foi também um ano onde pude perceber a continua evolução de novas formas de agir no mundo. Especialmente no mundo corporativo. Há mais de trinta anos trilho essa jornada junto a grandes empresas e nunca havia visto tantas iniciativas que as colocam no centro da busca de solução de problemas da sociedade. Coprotagonistas, ao lado do poder público, de ONGs, startups e até de empresas concorrentes. Eu enxergo aqui uma clara evolução.
Se estendo o olhar para a última década, essa evolução fica ainda mais visível. Passamos por um longo período no qual as empresas dariam lucro e esse era o papel social delas, empregar, fazer a roda girar. Depois passamos a falar do Tripple Bottom Line, o tripé da sustentabilidade no qual as companhias começaram a vislumbrar que, mais que lucro, precisariam se preocupar com o meio ambiente e com as pessoas. Agora falamos em ESG* e, me parece, que chegamos a um momento em que a sigla tem começado a se traduzir em ações concretas por parte de muitas empresas.
Como o fluxo da vida segue o caminho da evolução, sempre, hoje vejo e participo de grupos nos quais CEOs das grandes empresas dedicam tempo [o ativo mais valioso de um líder!] a pensar e criar soluções para questões urgentes no âmbito da sociedade, como por exemplo: diversidade, inclusão e formação para emprego. Não é mais sobre um relatório de responsabilidade social a ser publicado no final do ano apenas. É sobre o dia a dia das grandes corporações, transformando-se para incluir, incluir, incluir. Estar presentes e “fazer a diferença”!
Demoramos séculos para enxergar que é vergonhoso não termos times diversos como é diversa nossa sociedade. No Brasil, as 56% de pessoas negras ainda não estão representadas nas lideranças. As 52% de mulheres também não. Agora estamos, de fato, despertando a consciência para transformar essa realidade.
Vivo essa transformação com um sorriso no rosto. Porque, pela primeira vez em três décadas de trabalho, vejo que as pessoas estão se tornando prioridade para todas as corporações. Eu enxergo a evolução e as pessoas estão no centro dessa conversa.
Visitei recentemente o campus da Inteli, faculdade criada pelos fundadores do BTG e que tem como premissa formar líderes para trabalhar com tecnologia, em qualquer área, servido a toda a sociedade.
Um dos fundadores dessa iniciativa filantrópica, Roberto Sallouti, conta em um documentário sobre a iniciativa publicado no site deles, que a ideia de investir em educação surgiu quando um grande investidor internacional, questionado por que não destinava mais dinheiro ao Brasil respondeu: “porque vocês formam poucos engenheiros”.
Investir em educação não é apenas só o que precisa ser feito, por questões morais, mas também é um bom negócio para quem legitimamente quer ver seus investimentos renderem mais e melhor.
De acordo com a Brasscom, encerraremos 2022 com mais de 100 mil vagas em aberto na área de tecnologia. Cem mil possibilidades de carreira, de renda, de transformação de vidas. Cem mil vagas em aberto, sem serem ocupadas por falta de... educação!
Na NTT DATA estamos trabalhando em conjunto com ONGs como a EducAfro e startups como a DIO para que, rapidamente, consigamos ter pessoas com skills técnicos capazes de assumir essas 100 mil vagas. Nos últimos anos disponibilizamos, gratuitamente, mais de 80 mil bolsas de estudos on-line de tecnologia em diversos cursos (por nós desenvolvidos), que certificaram mais de 4 mil profissionais com novos skills (com os mais 76 mil outras pessoas tendo, de alguma forma, avançado na formação em tecnologia). Assim, contribuímos de forma pragmatica para o gap citado pela Brasscom.
O Brasil, sabemos, é riquíssimo em recursos naturais. Somos também muito ricos em humanidade e em diversidade. Precisamos, como sociedade, formar pessoas para que nos tornemos imbatíveis no contexto global. Com o engajamento das empresas, isso é possível.
Eu enxergo a evolução. As empresas e seus líderes estão mobilizando-se em prol de uma sociedade mais equânime. Recentemente estive ao lado de 50 outros CEOs no 2o Fórum Internacional Empresarial pela Equidade Racial em São Paulo. Cinquenta líderes das maiores empresas do Brasil, locais e multinacionais, abriram suas agendas para esse assunto mais que urgente. Ficou claro a todos que somente ações afirmativas serão capazes de dar conta de séculos de omissão. Precisamos agir de forma antirracista. E também anti todo e qualquer preconceito. Já há hoje várias associações* de grupos de empresas unidas em prol da equidade de gênero, dos direitos LGBTQIAP+ e das pessoas com deficiência.
Finalmente estamos enxergando que o mundo não é feito apenas e nem exclusivamente para o homem branco e hétero. Por isso tudo, eu enxergo a evolução.
Que agora e em 2023 possamos dar novos passos nessa evolução. Com meu trabalho e engajamento, a sociedade pode contar!
Desejo que todos possamos descansar um pouco nesse fim de ano, ao lado das pessoas queridas. Que em 2023 tenhamos saúde para colaborar com o mundo que queremos construir!
Boas festas!
*Sigla em inglês para Environment, Social & Governance que concentra conceitos de expectativas do papel das empresas em relação a ações quanto ao meio ambiente, de impacto social ou referente a sua forma de organização em conduzir seus negócios.
*Tais como o Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, ONU Mulheres, Rede Empresarial de Inclusão Social (REIS), Movimento pela Equidade Racial (MOVER), dentre outros
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